A revolução da pílula anticoncepcional

A revolução da pílula anticoncepcional

O portal ABJ Noticias publicou uma matéria sobre os riscos do uso contínuo desde a adolescência e a ligação do medicamento com a depressão.

A pílula anticoncepcional foi criada em meados dos anos 1950. No início ela não era para ser usada na prevenção contraceptiva, mas sim como um remédio para distúrbios menstruais, o Enovid. Cerca de 500 mil mulheres recorreram ao Enovid entre 1957 e 1960, quando a FDA, órgão norte-americano responsável por controlar os medicamentos, aprovou a venda da pílula como o primeiro anticoncepcional ministrado por via oral.

A criação de um método anticoncepcional que controlasse a fertilidade feminina, além de trazer essa liberdade para as mulheres, foi uma revolução para a humanidade. As mulheres pararam de associar sexo à reprodução e passaram a ter a opção de decidir quantos filhos gostariam de ter e quando gostaria que isso acontecesse. Hoje, estima-se que mais de 100 milhões de mulheres tomem a pílula diariamente.

Muitas mulheres começam a fazer o uso das pílulas ainda na adolescência devido aos benefícios.  Primeiro, pelo efeito contraceptivo. Além disso, é normal os ciclos serem muito irregulares e com fluxo aumentado nesta fase os anticoncepcionais podem regularizá-los e diminuir o fluxo. Pode diminuir a cólica menstrual, TPM, assim como, em alguns casos, em pacientes com ovários policísticos pode melhorar a pele. “Os problemas da pílula é que adolescentes podem se esquecer de usar corretamente, deixando-as desprotegidas da gestação. Além disso, anticoncepcionais aumentam o risco de trombose, embora ainda seja muito baixo, desde que não haja fatores de risco”, revela o ginecologista e obstetra Rogério Leão.

Após a entrevista para a BBC da editora-adjunta do The Debrief, site de comportamento para o público feminino jovem, Vicky Spratt, que sofreu durante anos de depressão, ansiedade e pânico enquanto tentava diferentes tipos de pílula anticoncepcional, inúmeros chats e publicações sobre o tema invadiram a internet. Vicky começou a fazer o uso da pílula ainda na adolescência, aos 14 anos, para regular o ciclo menstrual. E foi assim por mais de uma década. Ela afirma ter experimentado muitas marcas e nomes diferentes. “Também foi nessa época que desenvolvi ansiedade, depressão e sérias mudanças de humor que muitas vezes me afetaram ao longo da minha vida adulta”, disse em entrevista à BBC. Depois de formada na universidade e de inúmeros ginecologistas afirmarem que os seus problemas psicológicos não tinham relação com a pílula, decidiu por si própria suspender o uso das pílulas. O resultado? Os ataques de pânico acabaram e as crises depressivas também.

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, publicado em setembro de 2016, avaliou o uso de anticoncepcionais e o diagnóstico de depressão em mais de 1 milhão de mulheres com idades entre 15 e 34 anos. Os achados foram que as mulheres que estavam usando a pílula eram mais propensas a ter depressão e usar antidepressivos, com destaque maior para as mulheres de 15 a 19 anos. “Um dos motivos relacionado a depressão em mulheres é justamente a alteração hormonal. O hormônio influência o humor”, expõe a psicóloga Carolina Veras.

De acordo com o ginecologista, pode haver sim “um risco maior de depressão em usuárias de anticoncepcionais”. No entanto, ele explica que isso é mais frequente em anticoncepcionais somente de progesterona. O psiquiatra e coordenador do Instituto de Psiquiatria – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP, Diego Freitas, concorda com o fato de a progesterona ter certa influência na depressão. “Estudos mostram que em mulheres vulneráveis o uso de pílulas combinadas (estrogênio mais progesterona) melhora as alterações de humor ao passo que pílulas só com progesterona podem piora-las”, aponta.

Matéria de: Kawanna Cordeiro

Foto: https://goo.gl/hkUPGt

Matéria disponível em: https://goo.gl/GJ6y3h